
São Tomás Becket, homem completo onde quer que os haja, tinha uma ideia bem clara do papel do Bispo e de qualquer pessoa que tenha sido constituída em autoridade: deve dar testemunho com a sua vida daquilo que prometeu ao Senhor, bem como da missão que lhe haja sido confiada. Numa das suas belas cartas que chegaram até nós, escreveu estas magnificas palavras: "O Sumo Sacerdote, o Senhor, é quem do mais alto dos Céus observa atentamente todas as suas obras... O destino de todos os Santos tem sido sempre o fiei cumprimento dos seus deveres, para.que se cumpra neles aquilo de que ninguém recebe o premio se não trabalhar conforme o regulamento".
"O maior acontecimento da história" chamam exageradamente alguns historiadores à morte deste grande santo que não quis pactuar com a tirania e a injustiça. Um menino perguntava ao pai: "Porque se açoita o Rei, papá?" E algumas pessoas mais velhas que presenciavam também aquela cena estranha, interrogavam-se: "Estará o monarca verdadeiramente arrependido?"
Tudo tinha acontecido assim: eram dois grandes amigos. Um deles, pela sua integridade e pela sua fidelidade à verdade e amor à Igreja, tinha sido assassinado pelo próprio amigo, ou antes, pelos esbirros pagos por esse amigo que era o rei da Inglaterra, por causa de ver frustrados os seus intentos de dominar a Igreja e continuar a cometer atropelos contra a justiça. Dois anos depois desta morte, o Papa, que também estava metido nestes conflitos, elevava-o às honras dos altares e toda a Inglaterra reconhecia a verdade; o rei, arrependido, ao que parece, sinceramente, açoitava as suas carnes nuas na mesma catedral onde Tomás Becket encontrara a morte, e fazia-o diante de todo o povo para obter o perdão de Deus e do seu povo. Tomás ficou órfão e dirigiu-se a Paris, a Bolonha, sempre com grandes desejos de aumentar o seu saber. Tinha nascido em Londres em 1118, de pais nobres. Os seus amigos sempre reconheceram as virtudes que adornavam a sua alma. Nunca a manchou com os pecados frequentes na juventude. A responsabilidade será a sua disciplina mais praticada.
Voltando a Inglaterra, logo começou a chamar a atenção pelas suas qualidades nada comuns. O Arcebispo de Cantuária nomeou-o seu arcediago para o ajudar no governo da diocese. O próprio rei reconhece as grandes qualidades deste jovem jurista e nomeia-o seu conselheiro especial, para que possa dirigir os assuntos mais delicados da coroa. Apesar do ambiente em que lhe compete viver, Tomás não se deixa envolver nos vícios próprios da corte. Todos admiram a sua austeridade de vida, a sua pureza de costumes, a retidão de todo o seu comportamento.
Em 1162, morreu o arcebispo Teobaldo de Cantuária e o rei Henrique, que não obstante a sua amizade, nunca chegou a conhecê-lo a fundo, fez o impossível para que o seu sucessor fosse Tomás. Este, porém, opunha-se, mas o rei insistia. Julgava que assim poderia apropriar-se de muitas prebendas da Igreja e dirigi-la a seu bel-prazer. Não sabia com quem, estava metido. O próprio Tomás disse-lhe de caras: "Se insistir, não diga depois que não o avisei. Não se venha este favor a converter em ódio para comigo e para com a Igreja que eu representarei".
Em breve os dois amigos começaram a distanciar-se. Tomás continuou com a sua vida de observância, de piedade, de excelente clérigo, sem se deixar enredar nas teias do monarca. Este cometeu toda a espécie de atrocidades. Até que maquinou e realizou a morte abominável do santo arcebispo. A justiça e a santidade não podiam fazer conluio com o atropelo, a imoralidade e o crime. Corria o ano de 1170 quando Tomás caía assassinado aos pés do altar, a 29 de Dezembro.
Oração A São Tomás Becket
Senhor nosso Deus, que destes ao mártir São Tomás Becket a grandeza de alma que o levou a dar a vida pela justiça, concedei-nos, por sua intercessão, a graça de saber perder a vida por Cristo neste mundo, para podermos encontrá-la para sempre no Céu. Por Nosso Senhor. Amem
