29 Mar 2024
Beato Raimundo Lulo, (+1315)

O Beato Raimundo Lulo, o "'Doutor Iluminado", cavaleiro andante em busca do divino, filósofo, místico, trovador e poeta, nasceu em Maiorca, no século XIII. Casou-se e teve dois filhos. Levou vida frívola e teve os seus exageros amorosos dentro do matrimonio. Uma visão de Cristo mudou-o radicalmente. O jogral mundano converteu-se em jogral de Deus. "Desde então o Amado foi tudo para mim". Foi um varão de desejos, como diz a Bíblia do profeta Daniel. As costas maiorquinas não podiam encerrá-lo.

Um triplo desejo ardia na sua mente: converter todos os infiéis, conquistar todas as mentes para a verdade e coroar a sua vida com o martírio. Então começa a sua vida peregrina pela Europa, Ásia, África. Leva a sua Arte Magna à Sorbona de Paris, que não é aceite.

Tira as consequências num formoso livro Arvore de filosofia de amor e Árvore da ciência.

O amor de Cristo devorava-o. Fazia tudo por amor. Os seus numerosos livros são um transbordar desse amor, e em seu coração molhava a pena ao escrever. Assim se vê no seu delicioso livro Blanquerna, uma espécie de utopia, que precede duzentos anos o de São Tomás Moro, com o qual quer atrair sobre a terra o reino da justiça, do amor e da paz de Cristo. Dedica os seus livros especialmente aos árabes e judeus.

O seu coração de apóstolo aparece em Cem nomes de Deus, no dulcíssimo Livro de Santa Maria, todo leite e mel, e no afetuoso Cântico do Amigo e do Amado, com tantos versículos como dias tem o ano, e com deliciosos e ternos diálogos: "Se não nos entendemos pela linguagem, entendamo-nos pelo amor". O seu zelo missionário mostra-se no Centro de Estudos Orientais que fundou em Maiorca, antecipando em muitos séculos o Colégio (mais tarde, Congregação) de Propaganda Fide, e cujo triste fim lamenta em Desconsolo.

Em suas contínuas fadigas só a glória de Deus o movia. Assim quando visita Filipe o Formoso, de França, e Jaime II, de Aragão, e sua esposa a doce Dona Branca "rainha branca de branca paz", à qual dedica um Livro sobre a oração. Assim quando se dirige à Corte de Roma, e ao Concílio de Viena, durante o cativeiro de Avinhão, e intima o Papa Clemente V perante o tribunal de Deus, se o Concílio se malograr.

Ainda fervilham mais empresas em seu cérebro. Planeia no seu opúsculo De Fine, a conquista do Norte de África, passando por Málaga e Granada, como o melhor caminho para a redenção do Santo Sepulcro de Jerusalém, que, com lágrimas, nos olhos, tinha visto abandonado na sua viagem à Terra Santa. E ainda planeava outros projetos para evangelizar o mundo, não pela violência, mas pela persuasão e derramamento de lágrimas e sangue.

Tem-se discutido muito se foi mártir ou não. Não há documentos fidedignos. Os seus ardentes desejos de martírio aparecem no Livro da Contemplação, que recorda o "morro porque não morro" de Santa Teresa de Ávila. Lulo tinha escrito: "Quero morrer num oceano de amor". Com esse desejo partiu para Tunes, onde sofreu múltiplos vexames da parte dos mouros, em Buxia. Se não recebeu o martírio de sangue, certamente recebeu o de fogo. Este tinha sido o ardente anelo de toda a sua vida, procurado sem descanso.

Voltou a Maiorca, vivo ou morto, no ano de 1315. Aí tinha nascido havia oitenta anos. Aí repousam os seus restos que ainda parecem gritar-nos as palavras do Amado: "Se vós, amadores, quereis água, vinde aos meus olhos, que são fontes de lágrimas, e se quereis fogo, vinde ao meu coração e acendei nele o vosso facho". Assim responde o Amado ao Amigo.